segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A encruzilhada energética


             Energia é uma palavra derivada de enérgeia, que em grego significa “em ação”, é a propriedade de um sistema que permite produzir trabalho, como conceitua a Física. Podemos afirmar que o desenvolvimento humano é indissociável da energia, na verdade sem energia não existiriam seres humanos.
Desde o inicio da vida em sociedade, o homem procura fontes de energia que possam ser geradas de forma contínua, ou armazenadas para serem consumidas nos momentos de necessidades.
         À medida que a humanidade descobria novas fontes energéticas, aumentava a capacidade de crescimento econômico, porem também expandia a interferência de forma negativa no meio ambiente. Dessa forma, a acessibilidade a energia passou a ser um pré-requisito ao desenvolvimento, enquanto que a escassez de energia passou a simbolizar um atraso econômico e social, o que consequentemente eleva o índice de pobreza.
         Atualmente o mundo passa por um dilema, uma verdadeira encruzilhada energética, há uma necessidade gigantesca de produzir para saciar a vontade de consumir da sociedade, mas simultaneamente a natureza dá sinais de esgotamento, ou seja, as fontes de energia tradicionais não podem ser utilizadas de forma intensa como vem sendo.
            Sabe-se que a produção e o consumo de energia estão diretamente ligados à produtividade do trabalho e à riqueza das sociedades. O grande problema é que o planeta Terra não consegue mais fornecer energia para manter o padrão de produção que a chamada sociedade de consumo está acostumada, quase que viciada.
            Diante disso, os governos de diversos países e as grandes organizações de defesa ao meio ambiente procuram um Plano B, o mundo já foi dependente do carvão mineral e agora é do petróleo, porem quem depende de uma só fonte de energia corre um grande risco de sofrer desabastecimento ou atravessar uma grande crise, que afetaria a economia e a qualidade de vida de sua população.
            O grande desafio é conciliar a ambição do crescimento econômico e a questão vital de proteger o meio ambiente, ou seja, como colocar em prática a sustentabilidade. Verifica-se que o ser humano quando precisa escolher entre os dois caminhos a seguir, prioriza a economia e não a preservação da natureza, mas chegamos a um limite. Resta saber se a sociedade vai ficar presa a um discurso de proteção ambiental ou vai realmente adotá-lo. Enquanto a sociedade perde tempo discutindo o tema e não encontra uma verdadeira solução para essa problemática, o mundo acompanha o vertiginoso esgotamento do planeta. Fica a pergunta, parafraseando “Sampa” de Caetano Veloso, até quando as feias fumaças apagarão as estrelas?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Contagem Regressiva


     No início do século XXI diversas manifestações contra a lógica do capitalismo e da globalização ocorreram, porém os ataques ao World Trade Center nos Estados Unidos atenuaram esse processo e o terrorismo passou a ser o centro dos debates.
      A crise atual do capitalismo vem trazendo de volta a discussão em torno das desigualdades e injustiças típicas do sistema. No último sábado, dia 15 de outubro de 2011, o mundo parece ter novamente acordado para a luta contra a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos, pois simultaneamente milhares de pessoas em todo o mundo foram às ruas protestar. Mais do que nunca a crise do capitalismo representa o desmoronamento do pensamento neoliberal. Em um modelo neoliberal o Estado é mínimo, pouco participa das decisões econômicas, aceitando o poder das grandes empresas privadas e das instituições internacionais, o que acaba favorecendo uma minoria (donos dos meios de produção) em detrimento da maioria (sociedade como um todo). Aí que vem o grande problema: quando a economia cresce, apresentando números positivos, a sociedade não recebe de forma direta os benefícios, não há melhoria na qualidade da educação, saúde ou moradia. Mas quando a economia entra em declínio (caso atual) o Estado passa a se dedicar para salvar a economia e mais precisamente as empresas que antes lucravam de forma ininterrupta, é justamente esse o grande questionamento.
      O uso do dinheiro público para equilibrar o poder privado é o inverso do que defendem os neoliberais, mostrando que essa crise vem extinguindo regras e que os governos de diversos países descaradamente passaram a auxiliar os mais ricos. Não existe dúvida que essa turbulência econômica apresenta proporções inéditas, a lógica do mercado está desestruturada, mas é necessária uma overdose de inocência para pensar que o neoliberalismo acabou.
    O poder não mudou de mãos e consequentemente a estrutura desigual da economia permanecerá, “possuem o poder aqueles grupos que controlam recursos e instituições decisivas na organização da vida social, fazendo com que a sociedade funcione de forma subordinada aos seus interesses”, como afirma o cientista político César Benjamim.
    O neoliberalismo consolidou-se na década de 1990, período em que as grandes transnacionais apresentaram um recorde de enriquecimento e a população em geral passou por um empobrecimento. Por si só esse fato contradiz o discurso neoliberal, que previa gerar riqueza e acabar com a pobreza. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Por qual motivo isso dever ser considerado normal?
     Em todas as tentativas de resolver os problemas sociais, verifica-se que ficamos amarrados aos sintomas, como a miséria, o desemprego, o analfabetismo, a mortalidade infantil, etc. Mas nunca conseguimos combater realmente as verdadeiras causas da injustiça, que está na própria essência do capitalismo.
        Essas manifestações não significam a morte do capitalismo, como estava escrito em alguns cartazes dos manifestantes, mas demonstram que ainda há espaço para o pensamento crítico e para a discussão em torno de uma transformação social. A população de inúmeros países começa a sentir o efeito perverso dessa crise, com o crescente desemprego e queda da qualidade de vida, o que deve ocasionar o aumento da insatisfação e consequentemente das manifestações populares. O grito dos excluídos (ou mal incluídos) não é um fato normal, a sociedade parece ter se acostumado com o caos social, a miséria não gera mais insatisfação, os pedintes nos faróis e as crianças que dormem nas calçadas fazem parte da paisagem. O que vemos é a banalização do sofrimento.
      A movimentação das pessoas nas ruas não será suficiente para alavancar as mudanças, mas podem servir de estímulo para uma verdadeira organização contra a perpetuação da miséria, podem acordar a maior parte da sociedade que anda adormecida esperando que as transformações ocorram naturalmente, fato quase impossível. A humanidade deve entender que chegamos a um ponto crucial de nossa existência, com crises simultâneas (energética, ambiental, econômica e social), fazendo-se necessária uma ação global contra a apartheid social, o momento é esse, não há mais espaço para inércia.

“Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo, mas não há mais muito tempo para sonhar”.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Amém


Por Jackson Lessa                         

Em 11 de Setembro de 2001 os símbolos da hegemonia militar (Pentágono) e financeira (World Trade Center) dos Estados Unidos foram atingidos. Esse acontecimento de difícil interpretação passou a ser considerado o maior ataque terrorista da história. Mas o que é terrorismo?
A definição de terrorismo não é uma tarefa simples, pois as conceituações muito estreitas se revelam inúteis diante de casos específicos e as muito amplas podem considerar diversos grupos como terroristas, incluindo até mesmo movimentos sociais.
A própria legislação dos Estados Unidos provoca uma situação embaraçosa quando tenta definir terrorismo, pois as conclusões podem ser legitimamente interpretadas contra os Estados Unidos. No titulo 18, Seção 2331 da legislação estadunidense, o termo terrorismo internacional abrange as atividades que “aparecem como voltadas para afetar a conduta de um governo pela destruição em massa, assassinato ou seqüestro”. A partir dessa visão, os serviços secretos dos Estados Unidos e diversos outros países praticam atos terroristas, que poderiam ser considerados como Terrorismo de Estado.
Segundo um relatório da ONU de 2005, terrorismo é qualquer ação “designada para causar morte ou sérios ferimentos a civis e não-combatentes com o propósito de intimidar uma população ou compelir um governo ou organização a fazer ou deixar de fazer algo”. Essa definição restringe o terrorismo a atos de violência politicamente motivados e exclui ataques contra forças combatentes. Segundo Demétrio Magnoli (doutor em Geografia Humana pela USP) a linguagem da ONU não deve ser confundida com a empregada pelos EUA na “guerra ao terror”, que descreve indiscriminadamente como atos de terror os atentados contra seus militares, engajados diretamente em combates ou em atividades de suporte dos combatentes, em lugares como o Iraque ou o Afeganistão.
A prática do terrorismo tem uma longa história. Para não voltarmos muito no tempo podemos citar que o estopim da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato, em 1914, do arquiduque Francisco Ferdinando por um estudante sérvio, membro do grupo Mão Negra. Mas, até o início do século XX, o terrorismo era algo muito localizado, com pequenas dimensões e até mesmo restrito.
Ele passou a apresentar maior força com a expansão dos regimes totalitários de Josef Stálin e Adolf Hitler, já no final da década de 1920. O terror ganhou uma nova dimensão com o totalitarismo, pois a estrutura do Estado passou a ser colocada a serviço de ideologias que objetivavam a eliminação total dos adversários.
Independentemente de uma definição perfeccionista, a principal característica do terrorismo é a destruição da vida humana em nome de certos princípios ideológicos, religiosos ou políticos. Nesse sentido, podemos afirmar que no século XX o ápice do terrorismo foi durante a Guerra Fria, já que funcionava através de um equilíbrio baseado na capacidade de destruição mutua. Para José Arbex Júnior (Doutor em História Social) na Guerra Fria o próprio Estado tornou-se instrumento do terror. O antigo regime de apharteid na África do Sul era o terrorismo de Estado organizado pela minoria branca contra a maioria negra do país. Os regimes ditatoriais da América Latina provocaram, nos anos 1960 e 1970, com o auxílio dos Estados Unidos, o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas. O ataque nuclear a Hiroshima e Nagazaki foi o maior atentado terrorista já praticado por um Estado contra a população civil de outro.
E o 11 de Setembro? 
Foi um ataque terrorista covarde e abominável, aproximadamente 3000 pessoas morreram. Uma cena que nem os criativos cineastas hollywoodianos tinham imaginado, tão impressionante que parecia irreal. Os Estados Unidos estavam sendo atacados em seu próprio território, de forma indefensável e o que é pior, sem entender direito o que acontecia!
Era o século XXI batendo à porta e avisando, “as coisas estão mudando” e nem mesmo a policia do mundo (Os EUA sempre se comportaram como tal) está livre de punições. Que paradoxo, a partir desse evento, o maior beneficiário da prática do terrorismo passava a posar cinicamente como vítima e seu presidente George W. (Walker, mas, poderia ser WAR) Bush começava a falar em uma luta do Bem contra o Mal. Os EUA passou a ter uma espécie de cheque em branco ilimitado para utilizar todos os recursos necessários para combater o terrorismo. Para fazer justiça a sua origem, o país foi a Guerra, fato aceitável até certo limite, pois quando fica evidente que o objetivo não é apenas o combate ao terrorismo as coisas começam a complicar.
O Afeganistão possui uma localização estratégica, pois é a região de passagem entre o Oriente Médio e a Ásia Central e essas áreas apresentam as maiores reservas de petróleo do planeta, situadas em um local hostil aos Estados Unidos. As ações terroristas davam ao país um pretexto ideal para uma militarização na região. Noam Chomsky (Deterring Democracy, 1991) indica que desde 1928 os Estados Unidos tentam controlar o Golfo e seus arredores, tendo em vista o manancial petrolífero e demais riquezas. 
Os norte-americanos iniciaram a sua prática, malsucedida, de criar lideranças armadas que no início a eles se submetem e depois rejeitam as suas regras. Esse processo gerou Saddam Hussein e outros, chegando a Bin Laden. 
A arrogância imperialista estadunidense começou a arruinar o prestígio da ONU, principalmente do Conselho de Segurança, a certeza de uma guerra teoricamente rápida e lucrativa impulsionava o país a agir unilateralmente, na prática o conflito tornou-se desastroso em todos os níveis: político, econômico, social e principalmente moral. Os Estados Unidos tiveram que se endividar para guerrear e as conseqüências negativas se multiplicam, sendo o estopim a crise econômica atual, que ninguém é capaz de prever como será o final. Nesse mês (Setembro de 2011) os meios de comunicação não cansam de mostrar as cenas dos ataques ao World Trade Center em 2001, mas parecem esquecer que os conflitos ainda estão acontecendo tanto no Afeganistão quanto no Iraque. 
       O que o mundo espera é que dessa vez os Estados Unidos perceba que o uso da força para as questões diplomáticas está ultrapassado e que como diz a música da banda Engenheiros do Hawaii “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada”. 
Nesses conflitos os norte-americanos se colocaram como o Bem contra o mal e a certeza que fica é que eles vem promovendo o inferno em nome de Deus.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Qual o cardápio?


      O mundo atravessa atualmente um grande paradoxo: o aumento da fome mundial ocorre simultaneamente à expansão da produção agrícola. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção de alimentos é capaz de alimentar 11 bilhões de bocas, porém a população mundial se aproxima de 7 bilhões e hoje 1 bilhão de pessoas passam fome. Há explicação? Talvez sim.
É preciso entender que o problema da fome não se limita a uma questão de produção de alimentos, o fundamental mesmo é resolver o problema da acessibilidade a esses alimentos. É justamente esse o principal problema, a agricultura parece ter perdido sua função original e está cada vez mais difícil recuperá-la. Essa atividade é responsável por fornecer a subsistência para o ser humano, porém as barrigas estão cada vez mais vazias e as contas bancárias das grandes empresas cada vez mais cheias.
A problemática da fome não é apenas social, muito pelo contrário, envolve aspectos econômicos e políticos, principalmente porque a fome (de lucro) das agroindústrias impede uma verdadeira dedicação em resolver essa mazela.
Para o geógrafo Josué de Castro, a fome é a expressão biológica de males sociológicos diretamente ligados às distorções econômicas e sociais do seu tempo. Entre essas distorções podemos apontar o fato da incompetência ou má vontade política (ou roubalheira mesmo) que atinge grande parte dos nossos governantes. A fome deve ser tratada como uma questão de saúde pública e não deve ser apenas uma preocupação de quem a sofre, deveria ser a discussão central de uma sociedade que se considera humana.
Existe uma norma internacional sobre o direito à alimentação, está no artigo 11 da Convenção Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Segundo essa norma, a fome deve ser eliminada e os povos devem ter acesso permanente à alimentação adequada, de forma qualitativa e quantitativa, garantindo a saúde física e mental dos indivíduos e das comunidades, além de uma vida digna. Tudo isso é muito bonito, mas olhando bem a realidade parece ser fantasia. 
Para Jean Ziegler, relator especial da ONU sobre o direito a alimentação, a fome é definida como insuficiência ou ausência de calorias no organismo. Já a desnutrição é caracterizada pela falta de nutrientes, especialmente de vitaminas e minerais. Grande parte da humanidade sofre os dois processos, mesmo que não saiba diferenciá-los. Em conseqüência disso temos uma população doente, como afirmava o médico grego Hipócrates “a base da boa saúde está no alimento, assim como o princípio da doença está na falta dele, ou na sua baixa qualidade.”
A situação vem se complicando ainda mais nas últimas décadas, principalmente após a crise do petróleo de 1973 e os relatórios que apontam para um aquecimento global. Esses acontecimentos estimularam o desenvolvimento de pesquisas ligadas a fontes de energias alternativas e a produção de alimentos foi inserida nesse contexto.
A demanda por energia renovável desvia a oferta agrícola para bicombustível, ou seja, parte da terra deixa de produzir alimentos e esse processo passa a encarecê-lo. É a famosa lei da oferta e procura. Estamos em uma encruzilhada, precisamos urgentemente nos dedicar a essa questão, é inaceitável que em pleno século XXI o mundo não tenha conseguido resolver uma necessidade básica para a sobrevivência. O primeiro grande desafio é priorizar o problema social e não o econômico. Do ponto de vista econômico a agricultura ou o agroNEGÓCIO vai muito bem, porém socialmente não consegue amenizar  o genocídio silencioso, que é a morte pela falta de alimentos, com milhares de desnutridos pelo mundo, quase que se decompondo, virando adubo para a terra.
Conclui-se, até aqui, que o ser humano não come, mas parece ser comestível.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Derrota da (Pré) Potência


             A história dos Estados Unidos é marcada por uma aptidão expansionista e imperial, comprovada pela própria formação territorial do país. A auto-estima exacerbada estadunidense gerou teorias e doutrinas religiosas, políticas e econômicas que justificaram ao longo do tempo as ações do país, inicialmente, no continente americano e em escala planetária, posteriormente.
               Entre essas doutrinas, podemos citar o Destino Manifesto, a Doutrina Monroe, os Corolários Polk e Roosevelt, a Política do Big Stick, a Doutrina Truman e a Doutrina Bush. Todas essas doutrinas alimentaram um comportamento agressivo em relação às terras estrangeiras, fazendo com que o país tivesse a posição de polícia do mundo, agindo conforme seus interesses para conquistar e perpetuar o poder.
Todo esse processo contribuiu para que os Estados Unidos se transformasse em uma potência global, considerado um poder hegemônico incontestável e insubstituível! Essa idéia começa a se desmanchar com as crises recentes que atingiram e continuam atingindo a (super)potência. Verifica-se que o país já passa por um momento de turbulência interna, os últimos censos realizados indicam que houve uma acelerada desigualdade entre as classes sociais, aproximadamente 18 milhões de cidadãos vivem em profunda pobreza e miséria. Além disso, quase 45 milhões de indivíduos não possuem direito a nenhuma assistência medica publica.
               Parece não haver mais dúvidas que a posição de liderança absoluta dos Estados Unidos no mundo chegou ao fim. É inegável que o país continua sendo uma grande potência global, porém a posição de hegemonia está abalada. Vários são os fatores que podem ter desencadeado esse acontecimento, mas alguns se destacam, como: a altivez em excesso, a diminuição de valores morais e políticos, a irresponsabilidade fiscal de sucessivos governos e o imperialismo ostensivo que despertaram o antiamericanismo no mundo inteiro.
               A crise dos Estados Unidos não é recente, na verdade ela ficou exposta agora, mas foi originada nas ultimas décadas. Immanuel Wallerstein (sociólogo da Universidade Yale, Boston) afirma que três forças empurraram o país para a atual crise, todas engendradas entre 1960 e 1970. Primeiro, houve uma acirrada concorrência econômica entre o Japão e a Europa, que afetou a produção americana. Em segundo lugar, completou-se o ciclo de descolonização do Terceiro Mundo com a consequente rejeição ao status quo imposto pela ordem americano-sovietica. Por fim, proliferaram organizações de reação ao liberalismo e ao American Way of Life.
           Diante disso, fica claro que parte da crise estadunidense é conseqüência de um movimento de resistência mundial em relação ao unilateralismo do país em vários níveis.  Os Estados Unidos rejeitou o acordo de verificação do tratado de proibição de armas biológicas, não assinou o Protocolo de Kyoto e não quer participar das negociações sobre o tráfico de armas de pequeno calibre. Tudo isso revela a preocupação do país em priorizar os seus interesses, e não os globais. É evidente que a palavra da vez é multilateralismo e que essa crise também tem uma forte relação com a mudança do poderio econômico mundial. A ascensão da União Europeia e a recuperação japonesa, além do fortalecimento de países como o Brasil, Rússia, Índia e a China. 
                Para muitos especialistas a economia dos Estados Unidos perdeu o dinamismo e o país está preso a uma estrutura da Guerra Fria que não serve para a chamada Nova Ordem Mundial, ou seja, não ingressou na modernidade ainda. Os Estados Unidos não conseguem esconder sua fragilidade, o dólar vem perdendo importância como reserva de valor global e até mesmo a superioridade militar parece ser questionada, diante de vexames como as recentes guerras do Afeganistão e do Iraque. Conforme observou o historiador britânico Eric Hobsbawm, “mesmo um grande poder militar precisa de certo grau de aprovação dos dominados”. Essa aceitação não acontece mais. 
               Segundo André Lahóz (Revista Exame 06/2010) os Estados Unidos estão cada vez mais parecidos com um país como outro qualquer, é assim o mundo do século XXI. Os acontecimentos recentes demonstram que a maior parte da população mundial não pode mais seguir as decisões tomadas por uma minoria, seja ela o G2, O G8 ou o G20. É necessário defender a adoção do G192, as 192 nações membros da ONU. Na sociedade atual , portanto, não há mais espaços para o isolacionismo nacionalista, precisamos de uma globalização da solidariedade e de uma descentralização das decisões. 
             E os Estados Unidos? Resta torcer para que o fundo do poço chegue logo, só assim poderá tomar impulso e tentar voltar à borda!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pós-moderno e Pré-humano

      Entende-se por Globalização a interdependência entre países e pessoas do mundo, abrangendo os aspectos econômicos, políticos e culturais. O processo de globalização não é recente, mas ganhou muito mais força após a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Rompia-se assim a última grande barreira para a disseminação do pensamento único e do individualismo. O capitalismo saiu vitorioso da disputa da Guerra Fria e a globalização passou a ser defendida como a grande saída para os problemas do mundo.  Acreditava-se que o desenvolvimento seria homogeneizado, porém, o que se viu foi o aprofundamento das diferenças, principalmente econômicas e sociais. Parece ser mais um daqueles casos, onde o excesso de remédio mata o paciente.
      A globalização é uma realidade inevitável e indiscutível, o grande problema é o exagero em ressaltar os pontos positivos e a ingenuidade (talvez proposital) em não perceber as mazelas que esse mesmo processo provoca. Os grandes meios de comunicação exaltam o evidente progresso das ciências e das técnicas, mas tentam e conseguem ofuscar a multiplicação da pobreza e da miséria como conseqüência direta da globalização feita de cima para baixo. Esse processo é “imposto” pelos países desenvolvidos aos periféricos, que por diversas razões não conseguem usufruir das benesses desse processo. Percebe-se então que a globalização parece ser uma nova etapa de dominação, o que justifica o termo globocolonização, utilizado por Frei Betto, para designar a mundialização da ideologia e do comportamento.
     Os defensores de uma sociedade globalizada expõem as conquistas tecnológicas, as facilidades do mundo moderno e as transmissões instantâneas de notícias como sendo universais. Tentam passar a idéia de um mundo melhor, mas camuflam a informação do essencial, que é justamente a incapacidade da globalização em verdadeiramente incluir todos de forma igualitária. O que vemos então é uma inserção precária da maior parte da população do planeta nesse mundo “modernizado”. É a chamada indústria da manipulação de consciências.
     Os números reais da globalização não são tão animadores, segundo a UNICEF as crianças africanas consomem menos proteínas que os gatos e cachorros estadunidenses, o pão nosso de cada dia está cada vez mais difícil, aproximadamente 1 bilhão de pessoas passam fome em um mundo que produz alimentos em excesso, o consumismo é impulsionado, mas as pessoas não tem salários para consumir, fala-se  muito em paz, mas o que dá lucro é a venda de armas. A Globalização produz contradições em escala industrial, mas como disse Noam Chomsky, “a mídia é inimiga da democracia”, pois inibe o debate e consolida o consenso.         
     O geógrafo Milton Santos utilizou o termo “Globalitarismo” para mencionar a relação entre o capitalismo globalizado e o totalitarismo ideológico. O pensamento neoliberal passou a ser a bíblia dos capitalistas e o dinheiro se transformou no Deus dessa religião. Talvez os acontecimentos recentes possam redesenhar essa trajetória, o mundo passa atualmente por múltiplas crises, destacando-se a econômica, a social, a ambiental e a energética, resta saber se essas crises poderão ocasionar mudanças significativas capazes de tornar o mundo menos desigual e mais humano. Seguindo a lógica capitalista, dificilmente isso ocorrerá, a globalização é perfeita para quem consegue acompanhá-la, para quem herda a parte benéfica dela, porém cada vez mais os beneficiados correspondem a uma parcela percentualmente insignificante da sociedade, mas que possuem o poder de influenciar a interpretação do mundo por parte da maioria. Verifica-se a globalização da pobreza, da violência, da fome e até mesmo da doença (como foi o caso da gripe suína).
     A elite enfatiza as vantagens, esconde os problemas e aliena a população, carente de senso crítico e de informações verdadeiras. Esse procedimento é compreensível, pois essa elite possui um estilo de vida confortável e uma visibilidade social sedutora. É normal que a manutenção desse modelo seja a principal meta desse grupo. Como essa elite “coincidentemente” controla os meios de comunicação fica fácil impor um pensamento dominante.
      Dessa forma, resta ao cidadão comum, desprovido de pensamentos próprios, assimilar o que a classe dominante reproduz. Aí me lembro de uma frase tucana de um ex-presidente brasileiro, “A Globalização é o novo Renascimento da humanidade”.
Aham, então tá!