quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Contagem Regressiva


     No início do século XXI diversas manifestações contra a lógica do capitalismo e da globalização ocorreram, porém os ataques ao World Trade Center nos Estados Unidos atenuaram esse processo e o terrorismo passou a ser o centro dos debates.
      A crise atual do capitalismo vem trazendo de volta a discussão em torno das desigualdades e injustiças típicas do sistema. No último sábado, dia 15 de outubro de 2011, o mundo parece ter novamente acordado para a luta contra a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos, pois simultaneamente milhares de pessoas em todo o mundo foram às ruas protestar. Mais do que nunca a crise do capitalismo representa o desmoronamento do pensamento neoliberal. Em um modelo neoliberal o Estado é mínimo, pouco participa das decisões econômicas, aceitando o poder das grandes empresas privadas e das instituições internacionais, o que acaba favorecendo uma minoria (donos dos meios de produção) em detrimento da maioria (sociedade como um todo). Aí que vem o grande problema: quando a economia cresce, apresentando números positivos, a sociedade não recebe de forma direta os benefícios, não há melhoria na qualidade da educação, saúde ou moradia. Mas quando a economia entra em declínio (caso atual) o Estado passa a se dedicar para salvar a economia e mais precisamente as empresas que antes lucravam de forma ininterrupta, é justamente esse o grande questionamento.
      O uso do dinheiro público para equilibrar o poder privado é o inverso do que defendem os neoliberais, mostrando que essa crise vem extinguindo regras e que os governos de diversos países descaradamente passaram a auxiliar os mais ricos. Não existe dúvida que essa turbulência econômica apresenta proporções inéditas, a lógica do mercado está desestruturada, mas é necessária uma overdose de inocência para pensar que o neoliberalismo acabou.
    O poder não mudou de mãos e consequentemente a estrutura desigual da economia permanecerá, “possuem o poder aqueles grupos que controlam recursos e instituições decisivas na organização da vida social, fazendo com que a sociedade funcione de forma subordinada aos seus interesses”, como afirma o cientista político César Benjamim.
    O neoliberalismo consolidou-se na década de 1990, período em que as grandes transnacionais apresentaram um recorde de enriquecimento e a população em geral passou por um empobrecimento. Por si só esse fato contradiz o discurso neoliberal, que previa gerar riqueza e acabar com a pobreza. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Por qual motivo isso dever ser considerado normal?
     Em todas as tentativas de resolver os problemas sociais, verifica-se que ficamos amarrados aos sintomas, como a miséria, o desemprego, o analfabetismo, a mortalidade infantil, etc. Mas nunca conseguimos combater realmente as verdadeiras causas da injustiça, que está na própria essência do capitalismo.
        Essas manifestações não significam a morte do capitalismo, como estava escrito em alguns cartazes dos manifestantes, mas demonstram que ainda há espaço para o pensamento crítico e para a discussão em torno de uma transformação social. A população de inúmeros países começa a sentir o efeito perverso dessa crise, com o crescente desemprego e queda da qualidade de vida, o que deve ocasionar o aumento da insatisfação e consequentemente das manifestações populares. O grito dos excluídos (ou mal incluídos) não é um fato normal, a sociedade parece ter se acostumado com o caos social, a miséria não gera mais insatisfação, os pedintes nos faróis e as crianças que dormem nas calçadas fazem parte da paisagem. O que vemos é a banalização do sofrimento.
      A movimentação das pessoas nas ruas não será suficiente para alavancar as mudanças, mas podem servir de estímulo para uma verdadeira organização contra a perpetuação da miséria, podem acordar a maior parte da sociedade que anda adormecida esperando que as transformações ocorram naturalmente, fato quase impossível. A humanidade deve entender que chegamos a um ponto crucial de nossa existência, com crises simultâneas (energética, ambiental, econômica e social), fazendo-se necessária uma ação global contra a apartheid social, o momento é esse, não há mais espaço para inércia.

“Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo, mas não há mais muito tempo para sonhar”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É muito importante saber o que você achou dessa postagem. Desde já, muito obrigado.