quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Derrota da (Pré) Potência


             A história dos Estados Unidos é marcada por uma aptidão expansionista e imperial, comprovada pela própria formação territorial do país. A auto-estima exacerbada estadunidense gerou teorias e doutrinas religiosas, políticas e econômicas que justificaram ao longo do tempo as ações do país, inicialmente, no continente americano e em escala planetária, posteriormente.
               Entre essas doutrinas, podemos citar o Destino Manifesto, a Doutrina Monroe, os Corolários Polk e Roosevelt, a Política do Big Stick, a Doutrina Truman e a Doutrina Bush. Todas essas doutrinas alimentaram um comportamento agressivo em relação às terras estrangeiras, fazendo com que o país tivesse a posição de polícia do mundo, agindo conforme seus interesses para conquistar e perpetuar o poder.
Todo esse processo contribuiu para que os Estados Unidos se transformasse em uma potência global, considerado um poder hegemônico incontestável e insubstituível! Essa idéia começa a se desmanchar com as crises recentes que atingiram e continuam atingindo a (super)potência. Verifica-se que o país já passa por um momento de turbulência interna, os últimos censos realizados indicam que houve uma acelerada desigualdade entre as classes sociais, aproximadamente 18 milhões de cidadãos vivem em profunda pobreza e miséria. Além disso, quase 45 milhões de indivíduos não possuem direito a nenhuma assistência medica publica.
               Parece não haver mais dúvidas que a posição de liderança absoluta dos Estados Unidos no mundo chegou ao fim. É inegável que o país continua sendo uma grande potência global, porém a posição de hegemonia está abalada. Vários são os fatores que podem ter desencadeado esse acontecimento, mas alguns se destacam, como: a altivez em excesso, a diminuição de valores morais e políticos, a irresponsabilidade fiscal de sucessivos governos e o imperialismo ostensivo que despertaram o antiamericanismo no mundo inteiro.
               A crise dos Estados Unidos não é recente, na verdade ela ficou exposta agora, mas foi originada nas ultimas décadas. Immanuel Wallerstein (sociólogo da Universidade Yale, Boston) afirma que três forças empurraram o país para a atual crise, todas engendradas entre 1960 e 1970. Primeiro, houve uma acirrada concorrência econômica entre o Japão e a Europa, que afetou a produção americana. Em segundo lugar, completou-se o ciclo de descolonização do Terceiro Mundo com a consequente rejeição ao status quo imposto pela ordem americano-sovietica. Por fim, proliferaram organizações de reação ao liberalismo e ao American Way of Life.
           Diante disso, fica claro que parte da crise estadunidense é conseqüência de um movimento de resistência mundial em relação ao unilateralismo do país em vários níveis.  Os Estados Unidos rejeitou o acordo de verificação do tratado de proibição de armas biológicas, não assinou o Protocolo de Kyoto e não quer participar das negociações sobre o tráfico de armas de pequeno calibre. Tudo isso revela a preocupação do país em priorizar os seus interesses, e não os globais. É evidente que a palavra da vez é multilateralismo e que essa crise também tem uma forte relação com a mudança do poderio econômico mundial. A ascensão da União Europeia e a recuperação japonesa, além do fortalecimento de países como o Brasil, Rússia, Índia e a China. 
                Para muitos especialistas a economia dos Estados Unidos perdeu o dinamismo e o país está preso a uma estrutura da Guerra Fria que não serve para a chamada Nova Ordem Mundial, ou seja, não ingressou na modernidade ainda. Os Estados Unidos não conseguem esconder sua fragilidade, o dólar vem perdendo importância como reserva de valor global e até mesmo a superioridade militar parece ser questionada, diante de vexames como as recentes guerras do Afeganistão e do Iraque. Conforme observou o historiador britânico Eric Hobsbawm, “mesmo um grande poder militar precisa de certo grau de aprovação dos dominados”. Essa aceitação não acontece mais. 
               Segundo André Lahóz (Revista Exame 06/2010) os Estados Unidos estão cada vez mais parecidos com um país como outro qualquer, é assim o mundo do século XXI. Os acontecimentos recentes demonstram que a maior parte da população mundial não pode mais seguir as decisões tomadas por uma minoria, seja ela o G2, O G8 ou o G20. É necessário defender a adoção do G192, as 192 nações membros da ONU. Na sociedade atual , portanto, não há mais espaços para o isolacionismo nacionalista, precisamos de uma globalização da solidariedade e de uma descentralização das decisões. 
             E os Estados Unidos? Resta torcer para que o fundo do poço chegue logo, só assim poderá tomar impulso e tentar voltar à borda!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É muito importante saber o que você achou dessa postagem. Desde já, muito obrigado.